Artistas que inspiram,  Dicas e reflexões

Memória afetiva em forma de retalhos…

Perdi minha avó muito cedo. Eu tinha apenas 4 anos. Ela como toda vózinha, era doce, delicada e me mimava muito. Tinha uma máquina, mas não tenho memória dela costurando. Mas me lembro perfeitamente de que quando ela morreu, eu me apossei de um roupão de flanela, lindo, todo florido. Quando eu estava triste, ou quando a minha mãe brigava comigo, eu deitava e me enrolava nesse roupão. Essa peça depois se transformou em uma saia – e eu já deveria ter uns dez anos.

Nem imaginava, mas já tinha a memória afetiva em forma de retalhos. Lamento muito o fato de não ter nenhum pedaço dele para colocar em uma colcha para a minha filha!

Quando penso na arte do Patchwork, penso justamente nessas peças confeccionadas, que quando formos embora, elas ficarão. Estarão acalentando e dando colo a tantas pessoas que amamos. Estarão com toda a energia que deixamos em cada corte, cada costura. Não se escolhe tecido de maneira arbitrária. Se escolhe olhando e mirando o alvo de quem a terá, usará. Para a Nath usaria roxo e azul! Para a Mila Turquesa. Para a Aurea muitos gatos! Para a Vivi flores pequenas e delicadas! e assim vamos….

Faço parte de alguns grupos de Quilteiras Americanas no facebook. É uma experiência enriquecedora. Vejo posts de senhoras que acabam falecendo (pois todas nós iremos um dia), e os filhos fazem exposições dos trabalhos feitos por essas senhoras. São tantos edredons com tantas cores, ou monocromáticos, todos contando um pouco de quem as fez, nas entrelinhas das costuras… quiltar da vida!

Eu adoro fazer colchas de bebês. Vidas novas, que estarão acalentadas com valores afetivos. Penso que quando crescem, terão sim um pedacinho de tecido em forma de cheiro de mãe… e as mães algo com cheiro de filhos.

Esse post fala disso… de começar esse ano pensando no futuro bem longe… fazendo trabalhos para nos perpetuarmos. A Suzana Refatti em uma das suas aulas, estava justamente falando sobre a importância de colocarmos etiquetas…. onde contamos a história de como e quando foi feita… para quem, pensando em que! Rute Sato faz etiquetas apaixonantes em seus trabalhos…. Nossa querida Adriana Sleutjes sempre coloca  etiquetas com o número das bolsas que faz… e idem seus trabalhos… Myriam Melo deixa impresso em sua caligrafia as emoções que estão a flor da pele.

Vamos fazer nossa primeira etiqueta? Vamos marcar um pouco de quem somos, e para onde vamos? Eu vou ao futuro da minha filha, se tiver uma neta… sei lá… no colo daquela senhorinha no asilo! Tanto faz….

Quero muito podermos trocar no blog essas experiências. Qual trabalho marcou sua vida? Você quer nos contar? Quer nos enviar uma foto? Vamos espalhar memórias?? Vem 2018… estamos costurando um ano novo para Você!

9 Comentários

  • Marisia Machado

    Eu tenho memória afetiva da minha avó materna…que era gerente de uma lavanderia e transformava camisas deixadas em vestidinhos p mim….tbem da mãe do meu marido que fez o enxoval da minha filha em Patch Aplique… Infelizmente eu só depertei p as costurices depois…. primeiro com o Patch coisinhas….agora com os olhos p o Patch tradicional…. sempre como vc disse em outro post… procurando não a perfeição mas sim a felicidade….E só quem vive neste universo sabe quão feliz ficamos com um pedacinho de tecido… Li em algum lugar que os quilts são eternos… espero que minha filha e minhas netas saibam valorizar….

    • Estela Mota

      Nossa Marisia, que bacana seu depoimento. Você sabe que para nós a coisa flui dessa forma mesmo. Eu tenho uma mãe que nunca costurou. Fazia tricô, mas não tinha esse dom. Tive uma madrinha e um padrinho que tinham uma alfaiataria. Acho que a minha paixão vem de lá…
      Acredito que os Quilts são eternos sim… seguramente sua filha e suas netas saberão ter essa memória agregada em suas vidas.

  • Estela Siqueira

    Linda iniciativa!
    Minha mãe fazia colcha com os retalhos que sobravam dos vestidos que ela costurava para nós, suas quatro filhas. Depois da colcha pronta, ficávamos ali a sonhar, a lembrar dos vestidos. Em cada retalho um pedaço do meu coração costurado em ponto apertado.
    Um abraço.

  • Vera Maria Xavier'

    Maravilhosa idéia! Desde menina estava em contato com tecidos. Chamávamos de ” fazenda”, ganhávamos de presente de aniversário um corte de fazenda. Anos 50! Grandes lembranças, minha mãe me ensinou a usar a máquina de costura com uns ,6 anos. Eu recortava.no assoalho minhas peças. Aprendi a costurar a mão também. Depois dos 50 anos me chamou atenção um anúncio de aulas gratuitas de patchwork. Pronto paixão à primeira vista. Sempre que posso fazer mais um curso, nunca se aprende tudo. Com carinho. Vera Maria.

    • Estela Mota

      Vera que depoimento lindo…. passou um filme ao ler suas palavras. A Nath me enviou uma mensagem dizendo “olha que história linda”!. Que bom que você também foi seduzida pelo Patchwork, e mais do que isso, que arrumou tempo para dividir essas experiências de vida conosco. Bem vinda minha querida… obrigada mesmo pelo Carinho!!!

    • Estela Mota

      Vera minha avó também chamava de fazendas… minha mãe as vezes até usa esse termo. Feliz as pessoas que tiveram e têm essa coisa afetiva pelo manual. Adorei seu depoimento….